domingo, 17 de julho de 2016

                                                              OLHOS DE CHUVA



                                                                       
                                                                      "IMPRO"


Interferência urbana no Marché de Cayenne, abertura do festival. 11ème Rencontres des Danses Metisses, novembro de 2015"
Com Dejalmir Melo, Melissa Figueiredo e Jamildo Gonçalves.
Fotos Ronan Litiére.
Cia. CORPODEAGUA no 11éme rencontres des danses métisses, em Cayenne (Guyana Francesa).
Na foto: Melissa Figueiredo.

quinta-feira, 30 de abril de 2015



Ao adentrar no teatro do Espaço Xisto Bahia, nos deparamos com diversas roupas estendidas pelo chão. Como se elas estivessem colocadas ali para secar, as vestes de todos os tamanhos e cores parecem pertencer a uma família, carregando histórias e cargas afetivas. A campainha toca, o silêncio toma conta do espaço e o espetáculo começa em um dia de casa cheia pela metade.
Como num sonho que vai tomando cor e forma, somos invadidos por uma gama de movimentos fortes que não podem ser vistos claramente. O som dos corpos que batem entre si e no chão se contrasta com a melodia leve música. Com o aumento da luz, nos damos conta de que são dois corpos masculinos em cena. Estes se chocam, se jogam e se completam num fluxo contínuo.
Ao longo de Umbigo, Dejalmir Melo e Jorge dos Santos mantêm uma força magnética. Alternando entre contato corporal e performance individual, os intérpretes passam por momentos que variam entre atração e repulsa, manipulação ativa e passiva, apoiar e servir de apoio, criando contrastes que preenchem o espectador com as mais diversas energias. Este jogo coreográfico perdura todo o espetáculo, numa metáfora que, segundo o release, visa explorar as relações humanas na contemporaneidade.
Umbigo nos convida a diversas indagações. Ao nascer, é o cordão umbilical que nos mantém conectados à nossa progenitora. No entanto, ao mesmo tempo em que sua queda nos proporciona certa independência, seu rompimento nos deixa o legado da dependência. Vivemos o tempo inteiro em relação e dependemos de outros para nossa sobrevivência. Outros que não necessariamente são humanos…
Os intérpretes também parecem desafiar o estereótipo do gênero masculino. Entre toques e batidas, surgem momentos de tensão, destacados pela dilatação do tempo, onde suas bocas e seus sexos se encontram. Que relação é essa? Casal? Irmãos? Amigos? É realmente necessário colocá-los num modelo, numa caixinha? Pode um homem se entregar aos seus desejos e perder sua compostura? Questões pertinentes neste contexto histórico, onde uma bancada evangélica toma as rédeas de um Estado Laico e uma novela é boicotada por causa da representação de amor entre duas senhoras.
Umbigo, junto com Malemolência, encerra a Mostra Baiana de Dança Contemporânea do VIVADANÇA. Em sua segunda edição, a Mostra dá credibilidade e comprova mais uma vez a qualidade da produção artística baiana. Aqui, santo de casa faz milagre e, se a casa é de ferreiro, o espeto não é só de pau.

Guilherme Fraga
Artista da Dança, Professor da Escola de Dança da FUNCEB e Mestrando do PPG Dança da UFBA.

Ficha Técnica: Umbigo
Direção e Coreografia: Dejalmir Melo (BA)
Interpretação: Dejalmir Melo e Jorge dos Santos
Iluminação: Pedro Dultra Benevides
Colagem musical, figurinos e cenografia: Dejalmir Melo
   

Categories: Observatório VIVADANÇATags: dejalmir melofestival vivadançaMostra Baiana de Dança Contemporâneaobservatorio vivadançaufbaumbigovivadança- See more at: http://festivalvivadanca.com.br/receba-o-meu-umbigo/#sthash.sO3cSlTi.dpuf

sexta-feira, 17 de maio de 2013

ÍCARO


Video Gabriela Leite

ÍCARO


Tendo como motor criador e fonte de inspiração o mito do herói grego Ícaro, usado metaforicamente no imbricamento com o autorretrato do artista. É o ponto de partida para a reflexão sobre o contínuo ciclo de vida, morte e renascimento. A montagem propõe o desenvolvimento metafórico do mito “Ícaro” a partir do seu fim. Sugerindo a ideia de que após morrer, tendo a cera das suas asas derretidas por ter se aproximado demais do sol, sobrevive carregando em si mesmo a profunda experiência de conhecer de perto o inacessível e seu valor. Aproximando-o ao homem comum (artista), limitado ao voo da consciência em sua jornada pelas antíteses da infância/velhice, encontros/desencontros, perdas e descobertas diárias, comuns no cenário contemporâneo. Na coreografia, a queda não significa morte, mas renascimento.

Foto João Milet Meirelles
 

As asas


“Nada melhor do que você para falar de si mesmo!” - Pedi a alguém que me ajudasse... Tive esperança que isso acontecesse... Descobri que ajudar é relativo. Identifiquei onde aqueles pesares todos que escoavam estavam indo parar, e por consequência o que causavam. Não gosto dessa sensação, ainda sem certezas, mas já é um bom começo. Se nas minhas costas foram parar acumulados, todo aquele saldo de coisas, todas com suas diversas características... Se for lá onde tudo se processa, que surja então dali mesmo alguma coisa boa... Que depois da metamorfose apareçam as minhas ASAS e me permitam a leveza de sempre, e permitam olhar, gostar, querer, desfrutar, ser e entender o necessário para alçar voo rumo ao que me espera adiante... Permita-me encontrar cuidados necessários para não feri-las jamais, pois sei mais que nunca o seu valor e desejo sempre continuar desde aqui embaixo e por onde passar até lá encima como a primeira que existi. “Um lugar onde possa deixar crescer as minhas asas”.

 

NA RUA

 
                                                
                                                   Foto Rein Tilmans

NA RUA

Depois de perambular noite adentro em busca de carinho, calor, comida e arte o bando escolhe um cantinho quente para passar a noite. Ali, gatos, anjos, malabaristas, palhaços e mágicos se unem para que o corpo de um aqueça o corpo do outro. E entre sonhos e sussurros o dia que está para nascer começa a ser definido através da criação destes artistas que têm a rua como palco, picadeiro, a sua Hollywood.

Foto Rein Tilmans
 
O dia nasce e com ele uma nova esperança de que o oficio do artista pode ser sim, uma forma de refletir a vida e a função da arte na vida das pessoas. A arte de ser livre, a arte de criar possibilidades, a mágica de tornar a vida do outro, mais rica. Naquele canto, naquela rua, naquela praça histórias serão contadas, compartilhadas e o bando crescerá a cada noite que cai a cada nascer do dia. Juntos com um só objetivo: CRIAR!

                              
                                              Foto Rein Tilmans
Os artistas pedem proteção para misturar os seus devaneios com a multidão. Uma atmosfera que sempre serviu como inspiração, mas que de costume ao ato de comunicar. Assim, vamos criando nossa própria parte no meio de um tudo. Ligando a música, colocando as quatro caixas no lugar, enfeitando-se com outros adereços e pedindo a atenção dos que estiverem por perto. Começam a comunicar a história de alguém que sonhava ser três: gente, bicho e artista. E que no dia do seu aniversário, recebeu a visita de um anjo enquanto adormecido estava no banco de uma praça como outra qualquer...

                                                                                
                                                      Foto Rein Tilmans
Este espetáculo livremente inspirado na obra de Chico Buarque "OS SALTIMBANCOS" foi criado em parceria com o Coletivos Cruéias Tentadores.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

OLHOS DE CHUVA


Video Gabriela Leite

OLHOS DE CHUVA

Na primeira versão contei com a presença do ator bailarino Marcelo Sousa Brito para o espetáculo no “Tabuleiro da Dança”. E da última vez que fizemos o balé, Allan Feeling também participou da remontagem. Tem lugar pra todos aqui.

Foto Jean Pedro
Foto Jean Pedro
                            
 Segundo Platão em sua obra “Odisseia”, no início dos tempos os seres humanos eram grudados em pares. Tendo duas cabeças, um corpo e oito membros. Estes seres se sentiam invencíveis se julgando, às vezes, mais poderosos que seu próprio criador. Assim, o criador resolveu que as coisas não poderiam ficar como estava e por isso, como lição, ele separou os corpos e os colocou um bem distante do outro. Desde então esses indivíduos, cada um em partes diferentes do mundo, perto ou muito distantes, vivem à procura da metade que lhes falta para tornarem completos: a alma gêmea. Talvez, por isso, tantos conflitos acontecem nessa aventura. Sujeitos a erros e acertos, as partes se encontram e se desencontram, atraem-se e se rejeitam. Completam-se.

No meio de sua ambiguidade, o amor permite historias diversas com diferentes “princípios” e “fins”, possibilitando uma variedade de reações, desejos e situações de reencontro com o outro e consigo mesmo, nas teias que tecem uma paixão. Nossa grande viagem.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

GENTE


Video Gabriela Leite

GENTE


Começamos com 15 min de duração, para apenas uma apresentação, e com a proposta de outra oportunidade, decidimos estender. Realmente o grupo era bem afiado e dava um tom bem especial ao trabalho. Na primeira versão, com imenso orgulho, contei com a participação do bailarino Valdemir Santos.
 
                                          Foto Vinicius Lima
 
Em trinta minutos, cinco pessoas se encontram por acaso e involuntariamente são transferidas para um lugar que talvez seja um paraíso que está dentro da cabeça de cada uma delas ou simplesmente é uma realidade distante da de outros que possivelmente gostariam de estar por lá... E é diante desse novo tempo espaço efêmero onde elas desenvolvem uma relação intensa, de confiança, solidariedade e compartilham de seus medos, inquietudes, prazeres e muito amor, como se tivessem encontrado aqueles que a muito desejavam encontrar, seus pares perfeitos, enfim uma historia única e maravilhosa que infelizmente tem tempo determinado para acabar. Então só lhes resta aproveitar e desfrutar dessa oportunidade ao máximo possível, porque depois disso, tudo voltará como era antes e elas jamais tornarão a se encontrar novamente. E continuarão sua caminhada em busca de outros espaços e grandes momentos inesquecíveis para serem vividos, deixados e relembrados depois.